Um crime praticado com extrema crueldade e marcado pela transfobia. No julgamento realizado ontem (28), o Tribunal do Júri de São Gonçalo considerou o réu culpado por homicídio quadruplamente qualificado. Assim foi sentenciado o assassinato de Amanda de Souza Soares, mulher trans apaixonada pela família, pela arte e pela cultura do carnaval. Conhecida no meio artístico como Mandy Gin Drag, a cantora e passista de 23 anos foi esfaqueada e encontrada sem vida por vizinhos em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, em fevereiro do ano passado, após ser atraída para um encontro com o homem com quem mantinha, em segredo, uma relação íntima de afeto.
O caso chegou à Defensoria por meio do programa Rio Sem LGBTIfobia, iniciativa de combate à discriminação e à violência contra a população LGBTI+, e desde então a história de Amanda passou a ser acompanhada pelo Núcleo de Defesa dos Direitos Homoafetivos e Diversidade Sexual da Defensoria Pública do Rio de Janeiro (Nudiversis).
— O plenário do julgamento do homicídio de Amanda foi extremamente significativo no combate à violência contra pessoas trans. Isso porque a denúncia narra a qualificadora do motivo torpe em razão da transfobia do réu — comentou a Defensora Pública Fernanda Lima, coordenadora do Nudiversis.
— Justamente por isso sustentei oralmente no plenário a necessidade de reconhecimento, pelos jurados, da referida qualificadora, para que esse terrível homicídio de uma mulher trans não fosse invisibilizado e para que a resposta da sociedade ao delito fosse justa no enfrentamento da transfobia — completou a Defensora.
O autor do crime, que na época trabalhava como repositor de supermercado, foi condenado a 25 anos de prisão. Para Ernane Alexandre, superintendente de Políticas Públicas LGBTI+ da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos e coordenador do programa Rio Sem LGBTIfobia, a parceria com o Nudiversis garantiu à família uma resposta, com a punição do culpado e a tipificação da transfobia como motivação do crime.
— Esta é uma importante resposta da Justiça em memória de Amanda e de todas as vítimas da violência no país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Nossa equipe do Centro de Cidadania LGBTI Metropolitana I, em Niterói, acompanhou este caso desde o início, prestando integral assistência social e jurídica à família — disse.