Ana Vitória Telles, aos 18 anos, carrega consigo uma história de superação marcada pela atuação do projeto "Eu Me Importo", do Núcleo de Atendimento Especializado da Criança e do Adolescente (Naeca) da Defensoria Pública do Pará. Criada pela avó, que assumiu sua guarda legal, Ana sempre viveu em um ambiente de desafios, e foi com o apoio da iniciativa que encontrou as ferramentas e a confiança para trilhar um caminho promissor.
"Desde pequena, eu faço parte do projeto junto com a minha avó, o que foi importante não só para o meu desenvolvimento escolar, mas também para melhorar a nossa convivência familiar. Minha avó participa das rodas de conversa com os pais e isso nos ajuda a ter uma comunicação saudável. Eu sou jovem e ela é de um tempo mais conservador, e o projeto amplia o conhecimento da minha avó, e melhora a nossa comunicação dentro de casa", compartilha Ana Vitória.
O projeto "Eu Me Importo" tem como objetivo principal garantir que crianças e adolescentes sob a guarda de familiares extensos, como avós e tios, tenham seus direitos protegidos e encontrem apoio para se desenvolverem de forma plena. Criado em 2021, ele busca evitar que esses jovens retornem a ambientes de risco ou sejam encaminhados para instituições de acolhimento, promovendo a manutenção dos laços familiares e o bem-estar emocional dos envolvidos.
Ana Vitória é prova viva de que a iniciativa pode transformar vidas. Beneficiada por uma bolsa de estudos para a Escola SESI Belém, que tem convênio firmado com a Defensoria, a jovem relata o quanto essa oportunidade foi crucial para que ela se sentisse capaz de alcançar seus objetivos. "Sempre estudei em escola pública, e o projeto me deu a oportunidade de estudar no SESI, então eu senti que eu pude ter uma maior convicção do que eu quero e posso ter essa certeza de que eu realmente estou preparada para o ENEM. O projeto me deu essa confiança”. Ana também faz o Curso de Redação Professora Joana Viera, já fez curso de informática e coach, o que potencializou as suas habilidades e lhe deu segurança.
Um sonho inspirado pela atuação defensorial
A estudante tem o desejo de seguir carreira na área jurídica, o que não surgiu por acaso. Ao longo dos anos, convivendo com defensores públicos e observando de perto o trabalho deles, Ana Vitória começou a se identificar com a missão de atuar na defesa dos direitos de pessoas em situação de vulnerabilidade, assim como ela e sua família.
“Cursar direito foi um sonho que se iniciou na Defensoria. Quando eu vi os defensores públicos atuando na área social, beneficiando um meio desfavorecido, que é igual ao meu, no qual eu vivo atualmente, começou a surgir dentro de mim esse interesse pelo Curso de Direito, por ajudar o social, o entorno de mim. Então, eu sonho muito em passar na Federal, fazer um concurso público e me especializar como Defensora Pública aqui no meu estado. Então, esse é o sonho da minha vida, é ajudar pessoas que, assim como eu, só precisam de uma iniciação. Eu só preciso disso”, afirma com convicção.
Descobrindo talentos
Os frutos colhidos por Ana Vitória vão além. Ela também se destacou na área de robótica, algo que lhe abriu portas inesperadas. “No SESI, eu me inscrevi na robótica, e eu consegui passar para a equipe de FIRST Robotics Competition (FRC), que é onde a gente trabalha com robôs mais industriais, de grande porte, é uma área mais difícil na robótica, então eu consegui, com meu conhecimento, passar na seleção. Inicialmente, entrei na área de projetos e também me especializei na área da elétrica, que é uma função mais para meninos. Então eu pude controlar os robôs, que é um grande avanço”, conta com orgulho.
A jovem chegou a participar de competições no Rio de Janeiro e em Brasília, onde foi premiada com medalhas, o que foi muito importante para o seu crescimento pessoal.
O depoimento de Ana Vitória evidencia como o projeto "Eu Me Importo" vai além do apoio jurídico. Ele oferece suporte emocional, social e educativo, criando oportunidades para que jovens possam sonhar e acreditar em um futuro diferente. A defensora pública Marúcia Maués, que coordena o projeto, ressalta a importância de manter as crianças e adolescentes junto aos seus familiares, garantindo que tenham o apoio necessário para crescer em um ambiente seguro e acolhedor. "Nossa missão é impedir novas rupturas de vínculos e evitar que essas crianças retornem a contextos de violação de direitos. Queremos que elas tenham uma base sólida para construir suas vidas", explica.
A convivência familiar é um direito da criança e do adolescente assegurado na legislação, que prioriza a sua permanência na família natural (pais) ou, na impossibilidade desta, na família extensiva (outros parentes com quem a criança tem afetividade), a fim de evitar o total rompimento dos vínculos constituídos por eles ao longo de sua existência, contribuindo para o seu desenvolvimento emocional saudável. Logo, a família extensa apresenta-se como um espaço que necessita de um olhar cuidadoso, para que tenha condições de cumprir com seu papel protetivo.
A história de Ana Vitória é inspiradora e mostra que, com o apoio certo, é possível transformar desafios em conquistas. O "Eu Me Importo" não apenas ofereceu à jovem as ferramentas necessárias para avançar nos estudos e no convívio familiar, mas também a ajudou a descobrir e perseguir seu propósito de vida.
Essa é apenas uma das muitas histórias que o projeto "Eu Me Importo" vem escrevendo. Ao garantir acesso a direitos fundamentais e fortalecer o papel das famílias guardiãs, o projeto não só muda vidas, mas cria condições para que jovens como Ana Vitória se tornem protagonistas de suas próprias histórias.
Serviço
Núcleo de Atendimento Especializado da Criança e do Adolescente (Naeca)
Endereço: Travessa São Francisco, nº 427 – Bairro da Campina (Belém)
Contato: (91) 99342-2925
Horário: segunda a sexta-feira, das 8h às 14h
Sobre a Defensoria Pública do Pará
A Defensoria Pública é uma instituição constitucionalmente destinada a garantir assistência jurídica integral, gratuita, judicial e extrajudicial, aos legalmente necessitados, prestando-lhes a orientação e a defesa em todos os graus e instâncias, de modo coletivo ou individual, priorizando a conciliação e a promoção dos direitos humanos e cidadania.