Em evento realizado nesta sexta-feira (31), na Escola de Assistência Jurídica da Defensoria Pública do Distrito Federal (Easjur/DPDF), alunos surdos e deficientes auditivos do Projeto RenovAção receberam certificados de conclusão de curso. O projeto contemplou pela primeira vez a comunidade surda do Distrito Federal. Os alunos participantes fazem parte da Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos (Apada/DF), instituição parceira da DPDF em outros projetos, como o Cidadania Bilíngue.
O subdefensor público-geral Danniel Vargas participou da cerimônia e, emocionado, reconheceu a luta diária da comunidade surda por melhores condições de acessibilidade. “É por esta razão que começamos um processo de reflexão sobre a forma de atendimento da Defensoria Pública. Queremos oferecer cada vez mais atendimento de qualidade a todas as pessoas, em especial àquelas que precisam de cuidados mais específicos para serem atendidas com respeito e igualdade. Por isso, é motivo de muito orgulho poder fazer parte dessa trajetória e ajudar vocês [alunos] a se tornarem melhores agentes de multiplicação da cidadania”, declarou.
Na ocasião, o presidente da Apada/DF, Marcos Brito, destacou o trabalho da Defensoria na promoção da acessibilidade e da cidadania por meio de projetos sociais como o RenovAção. “A Defensoria está fazendo um trabalho de protagonismo nacional em prol da comunidade surda e deficiente auditiva. Ela fez em meses o que o Brasil não fez até hoje”, explicou.
Para a subsecretária de atividade psicossocial da DPDF, Roberta de Ávila, “foi uma turma especial, porque aprendemos muito mais com eles do que todas as aulas em que nos preparamos. São pessoas ricas e raras nas suas sensibilidades, nos seus olhares. Como são pessoas cinestésicas, que gostam do toque, é uma riqueza muito grande, pois nós, ouvintes, normalmente precisamos treinar isso, e eles já tem essa sensibilidade maior. Assim, podem usar essa sensibilidade a favor deles, para mediar e resolver conflitos, para uma visão mais positiva da vida e para levar mais conexão nas relações”, comentou.
Os alunos desta edição do projeto RenovAção contaram com a mediação dos intérpretes Wiliam Tomás e Nilson Ribeiro. Estiveram presentes na ocasião, ainda, o defensor público Daniel de Oliveira e a defensora pública Bianca Cobucci, que ministraram aulas durante o projeto.
Superação
O projeto RenovAção coleciona histórias de superação e transformação na sociedade. Agora, com turmas voltadas para a comunidade surda e deficiente auditiva, a atividade contempla parte da população que ainda sofre com o preconceito e a falta de acessibilidade, mas que, aos poucos, vem conquistando o seu espaço.
Daniele Borges participou desta edição do projeto e foi escolhida como oradora da turma. “Nasci surda, fui implantada e oralizada. Meus irmãos sabem Libras, mas meus pais não sabem”, comentou. Para a auxiliar administrativa, ter um intérprete à disposição é um esforço que todos os órgãos públicos deveriam prover, e seria um movimento de libertação para toda a comunidade surda e deficiente auditiva.
De acordo com os participantes, a comunidade ouvinte não tem, em geral, noção das dificuldades enfrentadas por eles. Amaury Cícero, por exemplo, já passou por vários descontentamentos. Cícero moveu processo judicial para provar ser filho do pai do ex-presidente Fernando Collor, o ex-senador Arnon de Mello, morto há 28 anos. E, por conta de sua deficiência, a comunicação com advogados e servidores da justiça ficou comprometida, o que gerou aborrecimento e lentidão durante todo o processo.
O caso de Cícero chegou a ser amplamente divulgado na mídia e, à época, ele não sabia muito bem quais eram os seus direitos. “Agradeço à Defensoria pelo projeto, que nos presta diversas informações de muito interesse e que nos fornece instrumento para irmos atrás de nossos direitos. Agora tenho vontade de aprender cada vez mais”, declarou.
Acessibilidade
No evento, a ouvidora externa da DPDF, Patrícia Almeida, firmou compromisso com a comunidade surda e deficiente auditiva com o propósito de implementar medidas de acessibilidade para recebimento de críticas, sugestões e elogios à Defensoria. Ela afirmou que a ouvidoria passará a contar com um canal exclusivo de atendimento a essa população, que será divulgado com mais detalhes em breve.
