Quando a barragem da Samarco se rompeu em Mariana no dia 5 de novembro, destruindo comunidades, deixando um rastro de morte e poluição que se estendeu para vários municípios, a reação inicial de alguns defensores públicos foi de prestar auxílio o mais rápido possível aos afetados pela tragédia.
“Nós queríamos ajudar de alguma forma aquelas populações e, naquele momento não conseguiríamos dar uma solução jurídica imediata, por isso partimos para uma ação humanitária”, explica o defensor público Moacyr Costa Rabello, que atua na comarca de São João Del Rei. A campanha que mobilizou defensores públicos por meio das redes sociais partiu de um relato da defensora Elaine Karen Costa Araujo, da comarca de Governador Valadares, enviado aos colegas em que relatava que a falta de água estava produzindo uma situação caótica para todos.
Em visita a comarca de Carantiga, onde atuava como defensor público, Moacyr Rabello junto com a defensora pública Alessa Pagan Veiga, da comarca de Uberlândia no Triângulo Mineiro, resolveram criar uma mobilização para arrecadar fundos para ajudar as vítimas.
No sábado, 14 de novembro, Moacyr Rabello disponibilizou uma conta bancária para que os colegas realizassem as doações. Junto com a defensora Alessa Veiga, divulgaram o pedido de ajuda em diversos grupos de Whatsapp, e a informação acabou chegando ao Facebook. “A princípio pensamos em arrecadar dinheiro para comprar uma quantidade de água que fosse suficiente para encher um carro e enviar, uma vez que nos locais atingidos já não tinha água para vender e de nada adiantaria enviar apenas o dinheiro”, explicou Alessa Veiga. Entretanto, os defensores iriam precisar mais do que um carro para o transporte das doações, uma vez que a rede de solidariedade logo ganhou força e, em três dias, a campanha arrecadou pouco mais de 25 mil reais, recebendo, inclusive, doações de outros estados.
Solidariedade líquida
Naquele momento, Governador Valares e região sofriam com o desabastecimento de água, uma vez que a captação do Rio Doce foi suspensa devido à contaminação do rio. Com o dinheiro arrecadado, os defensores públicos compraram a água para ser distribuída. O recebimento das doações foi coordenado pela defensora pública em atuação na comarca de Governador Valadares, Clarissa da Silva Lima.
No dia 16/11 foi enviado um caminhão com 240 fardos de garrafas d’água, com seis unidades cada, sendo que cada garrafa contém 1,5 litros, e ainda 100 galões com 20 litros cada. Já no dia 17/11, outro caminhão foi entregue contendo 1.400 fardos, cada um com seis garrafas de 1,5 litros. As doações foram entregues ao 6º Batalhão de Polícia Militar de Governador Valadares para que os militares fizessem a distribuição de forma equânime.
Ao receber as doações e poder entregá-las para que fossem distribuídas, a defensora Clarissa Lima revelou a emoção de poder contribuir para tentar aliviar os efeitos daquela tragédia. “Senti muita emoção diante do alcance que a campanha tomou, em ver como nossos amigos e o povo brasileiro em geral são solidários. Foi muito gratificante poder contribuir ativamente e ver, pessoalmente, aqui na minha comarca, o resultado do nosso esforço”, disse a defensora.
Para a defensora Alessa Veiga, a população afetada pela tragédia ainda dependerá de ajuda humanitária por muito tempo. “Acho que apenas medidas judiciais não serão suficientes para este tipo de desastre. A população precisará de ajuda por muitos anos”, avaliou.
.jpg)
