Nº 058 - 17 de dezembro de 2020
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Kelsen Santos
O último Histórias de Defensor(a) de 2020 traz uma entrevista sobre um hobbie que não contamos em nem uma outra história: boardgames, ou seja, jogos de tabuleiro. A insurgência de um novo modelo de jogos de tabuleiro teve início nos anos 1960, quando designers alemães começaram a desenvolver jogos com temáticas e histórias mais trabalhadas, mesclando as estratégias de jogos clássicos, e se espalhou por outros países da Europa, como França, Holanda e Suécia. Atualmente, a Alemanha é o país que mais mais boardgames. Mas aqui no Brasil encontramos o defensor público de Rondônia Kelsen Santos, que iniciou, na Capital, um clube de jogos local, realizando eventos para apresentar esse universo às pessoas. Ele tem uma coleção com 120 jogos. "Descobri os boardgames modernos quando já era defensor público. Foi meu irmão e primos que, bem por acaso mesmo, conheceram um clube de jogos em Natal (RN), jogaram uma partida de Trajan e ficaram impressionados com o grau de estratégia do jogo. Eles me apresentaram em seguida e daí iniciamos nossa história com os boardgames.". Confira a história na íntegra!
ANADEP -
Há quanto tempo você é defensor público? Por que decidiu ingressar na carreira? Como foi este ingresso?
Sou defensor público no Estado de Rondônia há cerca de sete anos. Quando ainda cursava faculdade de Direito e nos primeiros anos de meus estudos para concursos públicos nunca imaginei prestar provas para a Defensoria Pública - de certo modo até ignorava que a carreira existia, apesar de ter tido contato com o seu trabalho em estágios no Judiciário. Mas calhou de um certo ano explodirem muitas provas de Defensorias Brasil afora, então encarei como uma boa oportunidade e resolvi focar os estudos aí. Depois que tomei posse e comecei a trabalhar, senti que havia encontrado uma carreira que me agradava muito e hoje tenho imensa resistência até em pensar me ver desempenhando qualquer outra função.
Como começou sua história como jogador de boardgames?
Em minha família os encontros sempre foram ocasiões para montar grandes mesas de jogos de tabuleiro, mas naquela época somente jogávamos jogos clássicos, como War ou Bolsa de Valores. Descobri os boardgames modernos quando já era defensor público, há uns cinco ou seis anos. Foi meu irmão e primos que, bem por acaso mesmo, conheceram um clube de jogos em Natal (RN), jogaram uma partida de Trajan e ficaram impressionados com o grau de estratégia do jogo. Eles me apresentaram em seguida e daí iniciamos nossa história com os boardgames. Em pouco tempo já estávamos fascinados com um conjunto de três ou quatro jogos. Ainda demorei alguns anos para iniciar uma coleção, contido pela dificuldade de encontrar jogadores, até que encontrei uma grande comunidade em Porto Velho. Iniciamos também um clube de jogos local, realizamos eventos para apresentar esse universo às pessoas e a comunidade foi crescendo - há tipos de boardgames para agradar o gosto de todo mundo, é bem difícil não gostarem.
Quantos jogos você tem e quais são? Top com seus jogos favoritos.
Hoje tenho uma coleção razoável, com 120 jogos, uma parte comigo em Porto Velho e outra parte em Natal, para sempre ter o que jogar nos dois lugares. Os meus favoritos são os jogos de estratégia, mas mantenho uma coleção bem diversificada para agradar toda companhia - há jogos festivos, competitivos, cooperativos, longos, curtos: vai ser difícil não encontrar ao menos um que agrade o grupo. Vou listar um top 5, não necessariamente ordenado: Terra Mystica, Dungeon Petz, Azul, Castelos de Burgundy e Tash Kalar.
Os jogos de tabuleiro vão perder espaço para os jogos digitais ou é possível jogá-los também de forma virtual?
Não acho que os jogos de tabuleiro vão perder espaço. É certo que hoje muitos dos jogos de tabuleiro contam com as suas versões digitais, seguindo o mesmo layout do próprio tabuleiro. Mas é perceptível que os jogadores preferem as versões físicas - existe uma interação que deixa a partida mais divertida. Jogamos a versão digital para encurtar distâncias com os amigos que moram longe ou pela dificuldade financeira de obter o original. Os censos anuais realizados pela Ludopedia revelam que a comunidade só cresce a cada dia e o próprio mercado mostra isso: hoje temos uma gama grande de lançamentos de boardgames criados por brasileiros, coisa rara antigamente, e é cada vez maior a quantidade de empresas trazendo para o Brasil versões nacionais de jogos estrangeiros, antes somente acessíveis por importação.
Jogos de tabuleiros exigem companhia. Quem é seu "rival"?
Sempre consigo montar um grupo para jogos rotineiros com minha companheira (Aline) e amigos. Quando não consigo, ficamos com os jogos “duelo” e até algumas partidas de jogos solo. Mas onde a rivalidade pega fogo mesmo é o grupo “original”, em Natal, e aí encaixamos dias de longas partidas de boardgames densos e estratégicos - algumas partidas chegam a dez horas de duração.
Além dos jogos, você pratica kitesurf, sandbord e wakebord. Compartilhe a sua história com cada uma dessas modalidades.
Também só conheci esses esportes quando já era defensor público. Quando adolescente nunca me interessei por esportes tradicionais, até não sei chutar uma bola em linha reta. Me interessava mais por artes marciais ou esportes menos praticados, como Rugby. Conheci o sandboard explorando as dunas em Natal e a partir daí passei a gostar basicamente de todos os esportes de prancha. Aqui em Rondônia, conheci o wakeboard nos rios. Ainda no Nordeste, conheci o kitesurf e passei a velejar com um grupo de amigos, chegando a velejar quilômetros acompanhando a praia e também mar adentro. Nas temporadas de inverno, conheci o snowboard e passei a marcar viagens específicas para esquiar. Cada uma já me deixou os seus machucados, é claro, mas nunca sofri acidentes graves.
Como você concilia a atuação da Defensoria com os seus hobbies?
O dia a dia de trabalho é bastante intenso, nesse período nem consigo pensar em jogar ou praticar esportes mais radicais. Já houve tempo que eu saía ao final da tarde da Defensoria e emendava direto para ir ao clube jogar ao menos uma partida à noite. Mas hoje está mais difícil, então mantemos jogos nos fins de semana. Já minhas atividades esportivas ocorrem mais em viagens específicas. Mesmo destreinado, não abro mão de reservar alguns dias para descer dunas, velejar ou colocar o barco em uma lagoa.
E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
A Defensoria Pública conquistou muitas vitórias nos últimos anos, o crescimento é visível. Onde chegamos representantes de diversos órgãos prestam esse reconhecimento. Mas a estrada ainda é longa. Acho que o maior desafio será proporcionar um ambiente de inovação, em especial tecnológica. É difícil convencer as pessoas a querer falar e investir em inovação quando muitos ainda não tem condições básicas de trabalho e lidam com dificuldades estruturais, mas se isso não for feito, a Instituição vai ficar para trás - e tempo perdido não se recupera.
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