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Nº 056 - 12 de novembro de 2020
Luís Henrique Zouein
Diversos atletas já passaram pelo nosso quadro "Histórias de Defensor(a)". Teve corrida, crossfit, ciclismo, triatlo. Desta vez vamos falar de uma modalidade inédita: o Powerlifting ou o "levantamento de peso básico".
 
O powerlifting é um esporte de força que consistente em três modalidades: o agachamento, o supino e o levantamento terra, cujo objetivo do atleta é levantar o maior peso possível em cada um dos movimentos. A prática surgiu nos Estados Unidos, nas décadas de 1950 e 60. 
 
O defensor público do Rio de Janeiro Luís Henrique Zouein já pratica o esporte há oito anos. "Desde muito jovem, eu pratico esportes e gosto de desafiar meus próprios limites, o que incluía a musculação “convencional”. Em meados de 2012, em determinado dia, cheguei à academia e vi um indivíduo malhando “de um jeito diferente”. Curioso, perguntei sobre. Ainda mais curioso, passei a pesquisar sobre o esporte. Desde então, não parei mais."
 
Zouein vê no esporte um meio de alivar as tensões do dia a dia. "A atividade esportiva, seja ela qual for, proporciona saúde física e mental, diminui o estresse, melhora a qualidade sono e até mesmo cognitiva. A prática da modalidade é, sem dúvida alguma, uma das minhas mais essenciais terapias, para muito além de um “mero lazer”." disse.
 
Confira a entrevista na íntegra: 
 
ANADEP - 
Há quanto tempo você é Defensor Público? Por que decidiu ingressar na carreira? Como foi este ingresso?
Tomei posse em 27 de agosto de 2019. Em seguida, foram dois intensos meses de curso de formação, com diálogos entre teoria e prática. De palestras e aulas, passando pela apresentação da estrutura orgânica da Instituição (Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro), até a realização de audiências e júris. O período foi de amadurecimento jurídico, humano e essencial para um início de carreira menos inseguro e mais qualificado.
 
Em verdade, foi a Defensoria Pública que me escolheu. Mas o grande atrativo da carreira e o que me realiza profissionalmente é o fato de a Instituição e o defensor público terem lado. Eu não sou e não preciso ser imparcial. O meu lado é o lado daqueles que se encontram em qualquer situação de vulnerabilidade. O meu objetivo é, por de dentro do Estado, dominar a linguagem jurídica (que é uma linguagem de poder) e empoderar o beneficiário dos serviços por meio dela, bem como em favor dele fazer um uso subversivo do Direito.
 
Você pratica o Powerlifting. O que é e como funciona?
O Powerlifting (expressão mais utilizada) ou “levantamento de peso básico” é uma modalidade do levantamento de peso (esporte de força) consistente em três movimentos: o agachamento, o supino e o levantamento terra. Os atletas podem fazer três tentativas em cada prova para levantar a maior carga possível e o que tiver maior somatório no total é o vencedor.
Como e quando surgiu o interesse por essa modalidade?
Meu primeiro contato com o Powerlifting ocorreu quando eu tinha aproximadamente 21 anos (hoje tenho 29). Desde muito jovem eu pratico esportes e gosto de desafiar meus próprios limites, o que incluía a musculação “convencional”. Em meados de 2012, em determinado dia, cheguei à academia e vi um indivíduo malhando “de um jeito diferente”. Curioso, perguntei sobre. Ainda mais curioso, passei a pesquisar sobre o esporte. Desde então, não parei mais.
Quem te treinou e quem te influenciou?
O esporte é pouco praticado no Brasil, embora muito popular no Leste Europeu e nos Estados Unidos. Por isso, são poucas as referências nacionais. Mas o meu primeiro e mais marcante treinador foi o André Jenz, um dos raros profissionais de educação física no país a se especializar na modalidade.
Quais foram os teus melhores resultados?
O que me levou a praticar o esporte foi o desejo de me desafiar cotidianamente e superar meus próprios limites. E o melhor meio de fazer isto e me motivar era competindo. Fui tricampeão brasileiro, bicampeão sul-americano e campeão pan-americano na categoria até 105kg, chegando a levantar 315kg no meu movimento mais forte (o levantamento terra).
 
 
Foto em momento de preparação para realização do movimento denominado "levantamento terra" no Campeonato Mundial de Powerlifting, ocorrido na Finlândia, em 2015.
 
O que têm em comum os grandes atletas de powerlifting? O que é que faz a diferença nesta modalidade? Quais as peças-chave?
Mais do que uma “força (sobre)natural”, o que os grandes atletas da modalidade têm em comum é a capacidade de suportar os “desconfortos” (dores musculares, a fadiga, o cansaço físico e mental). Ganha quem consegue treinar mais e melhor, sem se lesionar, apesar do cansaço.
Quem são os principais atletas do powerlifting?

No Brasil, existe uma grande referência que é o atleta David Coimbra, um dos poucos brasileiros e sul-americanos competitivos em nível Mundial. No mais, as grandes referências seguem sendo os europeus (sobretudo os russos) e os estadunidenses.

Hoje há canais que mostram, por exemplo, o MMA. Existe algum canal que mostre essas competições?

Infelizmente, no Brasil, não! Em minha primeira participação em campeonatos mundiais, o torneio foi transmitido ao vivo para toda a Europa. No Brasil, há poucos praticantes e, por consequência, pouco interesse na transmissão dos eventos. Mais pessoas precisam conhecer o esporte!

O powerlifting é uma modalidade olímpica?

Ainda não, embora esteja próximo de atingir este status. Eu costumo apresentar o esporte da seguinte maneira: para o leigo, o judô e o jiu-jitsu são esportes muito semelhantes. Provavelmente, igualmente praticados no Brasil e no Mundo. Um (o judô) é modalidade olímpica; o outro (o jiu-jitsu), ainda não, embora esteja em processo de admissão para tanto. O mesmo acontece com o powerlifting. Para o leigo, o denominado “levantamento de peso olímpico” e o powerlifting são muito semelhantes e, de fato, possuem grandes aproximações. Um possui o status de modalidade olímpica; o outro (o powerlifting) está passando por um processo para tanto.

Como o esporte te ajuda no dia a dia?

A atividade esportiva, seja ela qual for, proporciona saúde física e mental, diminui o estresse, melhora a qualidade sono e até mesmo cognitiva. A prática da modalidade é, sem dúvida alguma, uma das minhas mais essenciais terapias, para muito além de um “mero lazer”. Além disso, o autoconhecimento necessário para a prática de um esporte de alto desempenho me ajudou significativamente em períodos de estudos para concursos e até hoje em momentos que exigem maior frieza no atuar e superação do cansaço, como em plenários de júri.

E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
Recentemente, publiquei em coautoria com o brilhante e futuro colega Bernardo Augusto Ferreira Duarte o livro “Porque a Defensoria Pública é o melhor modelo de Assistência Gratuita”. O tema central da obra é avaliar cada um dos modelos de assistência jurídica e judicial gratuita, com suas respectivas vantagens e desvantagens. Argumentos contrários e favoráveis. Após ampla pesquisa, fica evidente a superioridade do modelo público (ou seja, o modelo defensorial) demonstrando que o serviço prestado pela Instituição é consideravelmente mais rentável (literalmente, mais barato) para o Estado, além de quantitativa e qualitativamente superior àquele alcançado pelos modelos alternativos hoje existentes.
 
A obra tem como objetivo primordial servir justamente como mais um instrumento argumentativo e político nas instâncias deliberativas. É preciso que a população e parlamentares conheçam a Instituição, suas funções e suas vantagens (sobretudo na promoção de direitos, mas também economicamente). Para isso, é preciso se fazer presente em todos os espaços públicos. É preciso ter propostas concretas. É preciso ter coragem para ser contra-hegemônico. Fortalecer a Defensoria Pública é um meio essencial para o fim de promover direitos de TODOS, mas sobretudo daqueles em situação de vulnerabilidade (seja ela qual for).
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