Nº 050 - 13 de agosto de 2020
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A bebida mais antiga da humanidade é o vinho, resultado da fermentação natural da uva. Atualmente, existem vinhos brancos, leves, corpo médio, encorpados, rosés, tintos, espumante, entre tantos outros.
O Brasil é o maior país da América Latina e está entre os cinco maiores produtores vitivinícolas do Hemisfério Sul. O país passou por muitas reviravoltas em sua história, mas vem investindo na produção de vinhos, desde a sua colonização. Somente o Rio Grande do Sul é responsável por 90% da produção nacional.
E é do Rio Grande do Sul, que a defensora pública Marta Zanchi nos conta como virou Sommelière - degustadora e profissional de vinho.
ANADEP -
Quando você entrou na Defensoria Pública? Por que decidiu ingressar na carreira?
Fiz o I Concurso para a Defensoria Pública do Rio Grande do Sul. Naquela época, eu lecionava, advogava e fazia concursos. Sempre fui garantista; isso é da minha essência e assim seria em qualquer carreira. Me descobri defensora na atuação. Na minha primeira comarca, a juíza com que trabalhei me disse o que acredito ser, no meu caso, uma verdade absoluta: "o concurso é que escolhe a gente, Marta". Assim, a Defensoria me escolheu.
Na Defensoria Pública do Rio Grande do Sul
Quando e como surgiu a paixão por vinhos?
A paixão por vinhos aflorou quando me classifiquei na comarca de Caxias do Sul, do ladinho de Bento Gonçalves. As pessoas te convidam para a casa delas e servem vinho. Restaurante? Vinho da casa e sagú de sobremesa. Acabei conhecendo o Vale dos Vinhedos. Soma-se a isso um grupo de amigos que morava na fronteira e trazia bons vinhos argentinos. Aí me entreguei. Fui estudar para aprender a comprar melhor e beber bem. Meu marido resolveu me acompanhar, e hoje somos os dois sommeliers. E a paixão por vinhos não é uma exclusividade minha aqui na DPE/RS, a compartilho com dois colegas sommeliers, a Jimenes Chimelli e o Tito José Rambo Osório Torres.
Quais são os tipos de vinho existentes?
Eis uma pergunta para muitas respostas. Todo mundo sabe que o vinho é feito da uva. O vinho pode ser feito a partir de dois tipos diferentes de uvas: viníferas e não-viníferas. Posso responder que há vinho fino, feito de uvas viníferas e que há vinho de mesa, que, no Brasil, é feito com uvas não-viníferas (vinho de garrafão).
As uvas viníferas não são boas para o consumo alimentar, pois elas são amargas e adstringentes demais. Mas, são excelentes para a fabricação do vinho, pois a sua casca possui bons elementos químicos naturais para a produção do vinho.
O vinho também pode ser produzido a partir de uvas normalmente utilizadas na nossa alimentação, que são as uvas não-viníferas. Geralmente, os vinhos de uvas não-viníferas são suaves (doce).
Posso classificar também por branco, rose, tinto, espumante, fortificados e de sobremesa. Mas há classificações de vinhos por região no mundo inteiro e é isso que torna tudo mais interessante.
Qual estilo de vinho que mais aprecia?
Eu tenho um especial apreço por vinho tinto, seco e encorpado. O Cabernet Sauvignon do Vale do Napa, o Tempranillo de Rioja e de Ribeira del Duero, da Espanha, por exemplo.
Na sua adega há alguma região vitivinícola ou casta que se sobressaia?
Na verdade, pela facilidade, o que mais temos são vinhos argentinos: Malbec, Cabernet Franc e alguns blends. Acho difícil errar com Malbec argentino, de regra, são bons. No geral, a adega vai confirmar minha preferência por vinhos mais encorpados.
Já fez muitas viagens para degustar vinhos e conhecer regiões produtoras? Quais as principais?
Fiz algumas. Gostei muito de conhecer as regiões de vinho da Espanha, me encantei com o Priorat, que é uma região pequena, com um solo diferente, de licorela e vinícolas que são atendidas pelas famílias produtoras. Viagem obrigatória para quem gosta de vinhos é Mendoza, que possui vinícolas modernas e onde os almoços de seis pratos são harmonizados. Vale também reservar uns dias para ficar no Vale do Uco. O Douro, em Portugal também é incrível, que paisagem...
Como escolher a bebida ideal para cada ocasião?
Outra pergunta que é difícil porque qualquer ocasião é boa para um vinho. Na praia ou na piscina não vai rolar um tinto encorpado, aí entram aqueles espumantes com boa acidez, geladinhos, tipo a linha Arte da Valduga, a Cave Amadeu rose, que eu adoro, ou, então, um rose da Provence ou o Pleno Blush, que é daqui e é uma delícia. Festas, em geral, espumante brut corpo mais leve e tintos com boa acidez e corpo médio. Churrasco pede um tinto mais encorpado, Tannat é perfeito. São apenas alguns exemplos.
Os vinhos brasileiros são uma grande aposta? Dê exemplos:
A melhor aposta no Brasil é, sem dúvidas, o nosso espumante e isso é reconhecido pelos maiores críticos do mundo. Mas temos vinhos ótimos por aqui também. A safra 2020, no sul do Brasil, foi uma das melhores da história. As vinícolas estão se modernizando e as regiões encontrando o que de melhor produzem. Vinhos como o Concentus da Pizzato, o Alicante Bouschet, da mesma vinícola, o Parte 2 - Merlot da Almaunica, o Paralelo 31 da Bueno Wines, a linha Biografia do Maximo Boschi, o Storia da Valduga, os Carbenet Franc da Valmarino são belas experiências, pois vinhos de qualidade similar de outros países custam mais caro.
Vinhos bons são vinhos caros?
Vinho bom é o que não tem defeito, o resto é gosto pessoal. Tem vinhos muito bons e com ótimos preços. Estou escrevendo aqui com um Chardonnay da linha Terroir, da Valduga, R$58, bem agradável.
Como degustar um bom vinho?
Entre amigos, com quem a gente gosta, é sempre a melhor opção. Entre uma conversa e outra, se fala do vinho. Mas se a ideia for aprender, o mais adequado é fazer uma degustação técnica que vai exigir algumas condições de ambiente e é feita por etapas: visual, olfativa, gustativa e, ao final, a conclusão.
Acredita que já tenha provado o "melhor" vinho da sua vida ou acredita que ainda é capaz de se surpreender?
Certamente ainda vou me surpreender muito. Aliás, torço por isso.
Os vinhos acentuam o sabor das refeições?
Harmonizacão é um estudo muito interessante. Um casamento que pode ser morno, mas ok. Pode ser perfeito - aqui entram as harmonizações clássicas como Chablis com ostras, Moscatel com morangos ou aquela experiência para não ser repetida, como pratos apimentados com vinhos muito tânicos: Cabernet Sauvignon e Tannat, por exemplo. Mas a resposta é sim, vinho pode melhorar tudo, e, na harmonização, pode piorar também.
Qual seu conselho para quem quer conhecer o mundo do vinho?
Têm muitos cursos on-line que são bons. Recomendo os perfis da ABS.RS e ABS.SP (ABS - Associação Brasileira de Sommelier) no Instagram e também no YouTube. A ABS-RS tem várias aulas gratuitas. Tem também os podcasts Umamicast e Simplesvinho. O perfil do professor Vinicius Mirago, no Instagram, além do site da Enocultura, que disponibiliza cursos on-line e com certificacao internacional. E, sobretudo, beba vinho.
E, por fim, o que você acha que precisa ser feito para o fortalecimento da Defensoria Pública?
A Defensoria Pública tem que ter sua atuação na amplitude preconizada pelo art. 134 da Constituição Federal. Isso significa atuar - de forma propositiva e estratégica - nas pautas afetas aos nossos usuários no Legislativo; tomar parte na construção de políticas públicas; pensar em projetos para inclusão social; focar nas soluções extrajudiciais, para além da atuação no ajuizamento e acompanhamento de ações individuais e coletivas. Temos que ser exemplo em atendimento humanizado. Um desafio enorme para a Instituição que tem por missão constitucional a promoção dos direitos humanos. É isso o que somos e é no que eu acredito.
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