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Nº 25 - 13 de outubro de 2015
Carlos Weis
Defensor público de SP. Quando coordenou o Núcleo de Direitos Humanos da DPSP, ganhou o Prêmio Direitos Humanos da SDH, na categoria 'Garantia dos Direitos'. O prêmio foi concedido pelo trabalho em favor da população em situação de rua.
De 4 a 7 de novembro, a ANADEP, em parceria com a Associação dos Defensores Públicos do Paraná, promoverá o XII Congresso Nacional de Defensores Públicos. Sob o tema “Defensoria como Metagarantia: transformando promessas constitucionais em efetividade", o Congresso será realizado na Faculdade de Direito da Universidade Positivo do Paraná, em Curitiba. A ideia é que o CONADEP oportunize o debate dos principais temas relacionados à Instituição e ao papel do defensor público na sociedade.
 
Um dos temas que será debatido durante o evento será "Os desafios da atuação da Defensoria Pública com a população em situação de rua". O painel será formado pelo antropólogo e pesquisador, Tomás Melo; pelo Membro da Coordenação Nacional do Movimento Nacional da População de Rua, Leonildo Monteiro Filho; pelo defensor público do Tocantins e coordenador do Núcleo de Defesa da Saúde, Arthur Luiz Pádua Marques; e pelo defensor público de São Paulo, Carlos Weis. 
 
Em entrevista exclusiva à ANADEP, o painelista Carlos Weis adianta um pouco sobre sua fala no CONADEP.
 
"Os desafios da atuação da Defensoria Pública com a população em situação de rua" será no dia 5 de novembro (quinta-feira), de 9h às 12h, no auditório 2.
Outras informações sobre o XII CONADEP acessar: http://congressoanadep.com. 
"As pessoas em situação de rua possuem direitos. Buscar a sua efetividade também faz parte da missão da Defensoria Pública que deve extrapolar sua atuação para além dos temas tradicionais e do modo habitual de funcionamento da Instituição."
ANADEP - 
Você será palestrante do painel "Desafios da atuação da Defensoria Pública com a população em situação de rua". Na sua opinião e na sua experiência com o tema, quais são os principais desafios do Brasil nesta temática?

O maior desafio é o da integração das políticas sociais voltadas a essa parcela da população, cujas questões talvez sejam as mais complexas e abrangentes a serem enfrentadas no país. As pessoas vão para a rua por diversos motivos como a desestruturação familiar, a falta de moradias, a remoção de assentamentos populares, o uso de substâncias entorpecentes (lícitas ou não), a falta de oportunidades no mercado de trabalho, a existência de algum transtorno psíquico, entre outros.

Daí que as políticas de prevenção são muito importantes pois, uma vez na rua, se torna mais difícil a abordagem e o encaminhamento para que a pessoa consiga reorganizar sua vida de uma forma mais saudável.

A falta de estrutura e de orçamento das Defensorias Públicas são fatores determinantes para que o trabalho de atendimento à população de rua seja prejudicado?

Não creio. Há muitas coisas que podem ser feitas com a estrutura atual, a começar pelo atendimento inicial, que pode ser feito nas ruas ou no espaço da Defensoria, a partir do que é possível propor medidas individuais ou coletivas a fim de garantir os direitos daquelas pessoas. Agora, um ponto me parece fundamental, que é o de designar um defensor para atuar dedicadamente com a demanda, seja para estabelecer os contatos com os movimentos sociais e autoridades, seja para desenhar a política de atuação em sua Defensoria Pública. Esta providência, contudo, tem encontrado algumas dificuldades em ser implementada, mas é preciso que se tenha em mente que o atendimento à poprua tem igual hierarquia e prioridade em relação aos temas mais comuns como a atuação nas esferas civil e penal. 

O Brasil possui atualmente cerca de 50 mil pessoas vivendo em situação de rua. São pessoas em condição de altíssima vulnerabilidade social, com alto grau de violação de seus direitos humanos básicos. Há um perfil traçado dessas pessoas? Ou em cada estado e/ou região brasileira os grupos têm particularidades diferentes?

O Governo Federal caminhou muito em relação a isso e traçou perfis quantitativos e qualitativos nas cidades de médio e grande porte, enquanto que prefeituras e governos estaduais também fizeram levantamentos por conta própria. Em geral, o perfil é parecido no Brasil todo, mas no conjunto de pessoas em situação de rua há grupos bem definidos, com cortes bem definidos – famílias, idosos, homens solteiros, usuários de drogas –  que precisam ser tratados de acordo com as suas peculiaridades.

Na sua opinião, quais Defensorias do país têm um trabalho de referência nesta área? E por quê?

Bem, eu não conheço o universo de ações desenvolvidas por todas as Defensorias Estaduais e a da União, de modo que eu poderia cometer uma injustiça. Prefiro indicar políticas de atuação que vêm dando certo. Entre elas estão:

>> O atendimento inicial integrado;

>>Os atendimentos móveis;

>> As visitas de inspeção a albergues;

>> A proposição de ACP’s para o fechamento ou reforma de albergues;

>> As intervenções junto aos gestores públicos para a adoção de políticas públicas;

>> A defesa de pessoas de rua contra agressões advindas de policiais ou outros agentes públicos;

>> O estabelecimento de mecanismos céleres para a obtenção de benefícios legais em esfera federal;

>> A aproximação com pessoas ou entidades do movimento social relativo à população de rua;

>> A realização de palestras, mesas de debate e outros mecanismos de educação continuada para defensores/as públicos/as com a participação de pessoas de tais movimentos entre outras medidas.

A falta de documentos pessoais das pessoas em situação de rua prejudica o atendimento na Defensoria Pública? Como funciona nesses casos?

Prejudica, mas não impede. Se a pessoa não possui qualquer documento, vale a sua palavra. É o que tem bastado. Quanto a encontrá-la para dar seguimento ao atendimento, muitas vezes, a pessoa volta na data estipulada; noutras, é fácil encontrá-la em seu local habitual de permanência. O contato com a rede social ajuda bastante.

Em grandes eventos organizados no Brasil, como a Copa do Mundo de 2014, observamos que o tratamento à população em situação de rua foi de exclusão. Em várias capitais que receberam os jogos como Salvador e Rio de Janeiro houve alguns atos que os governos locais ou autoridades policiais retiravam as pessoas das ruas de forma deliberada e até forçada, em alguns casos, até a pedido da comunidade local. Você considera que falta uma maior compreensão da sociedade dos problemas das pessoas em situação de rua?

Sem dúvida. Embora não possamos generalizar, ficou evidente que as medidas de embelezamento das cidades-sede foram apoiadas pela população. Mas o problema é menos esse do que a própria existência de um número tão alto de pessoas nas ruas de nossas cidades, sem políticas efetivas de atendimento.

Faltam campanhas de acolhimento para este grupo?

Eu creio que a sociedade brasileira é relativamente mal informada sobre o que se passa com os grupos vulneráveis em geral. E, lamentavelmente, a curiosidade das pessoas é muito limitada, talvez por uma questão de descrédito em relação à política e às ações do Poder Público.

Além disso, o Estado passou a ser considerado o único responsável por tomar medidas para a resolução dos muito problemas sociais como se a iniciativa individual ou coletiva também não fosse necessária para a melhora do nosso país.

E, por fim, o que os defensores públicos podem esperar do seu painel durante o evento?

Creio que poderão ter acesso a informações e modelos de atuação em relação a esse tema, de modo a fomentar, nas suas instituições a adoção de uma política de atuação ou o seu fortalecimento, se já iniciada.

As pessoas em situação de rua possuem direitos. Buscar a sua efetividade também faz parte da missão da Defensoria Pública que deve extrapolar sua atuação para além dos temas tradicionais e do modo habitual de funcionamento da Instituição. Além disso, o caminho deve ser, a médio prazo, o da inclusão da assistência jurídica à poprua no dia a dia da Defensoria Pública, a partir do trabalho iniciado por quem tenha sido inicialmente designado para tanto.

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