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INFORMATIVO da Associação Nacional dos Defensores Públicos
Nº 18 - 30 de setembro de 2013
Vitore André Zilio Maximiano
É o atual secretário da SENAD. É defensor público pelo estado de São Paulo. Sua carreira começou em 1994 como procurador do Estado. Já ocupou o cargo de subdefensor Público-Geral de SP. Atuou no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.
Na segunda quinzena de setembro, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) divulgou, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao Ministério da Saúde, pesquisa que mostra que no Brasil existem pelo menos 370 mil usuários regulares de crack. 
 
Para falar um pouco mais sobre o assunto e também sobre o papel da Secretaria no combate às drogas, esta edição do ANADEP ENTREVISTA irá falar com Vitore Maximiano, que está comando da pasta, e será também um dos palestrantes do XI Congresso Nacional de Defensores Públicos, que será realizado em Vitória (ES). 
"A Defensoria Pública tem tido um papel fundamental na defesa dos direitos das pessoas que mais fortemente vivem a exclusão social", destaca Vitore Maximiano
ANADEP - 
A SENAD, em parceria com a Fiocruz, ligada ao Ministério da Saúde, divulgou pesquisa que mostra que no Brasil existem pelo menos 370 mil usuários de crack regulares. Qual a importância dessa pesquisa e o que esses números revelam sobre a droga?

O país precisava de um diagnóstico bastante preciso sobre o uso do crack. Dessa forma, ainda em 2010, logo após o lançamento do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack, foi planejada pela SENAD esta pesquisa. Na realidade, foram dois inquéritos. Um epidemiológico, que traçou o perfil dos usuários. E outro domiciliar, que estimou o número de usuários nas Capitais, chegando-se às 370 mil pessoas que fazem uso regular do crack. Somadas às duas pesquisas, foram realizadas 32 mil entrevistas. Em razão disso, temos sustentado que estamos diante do maior estudo sobre o uso do crack já produzido no mundo. As pesquisas, sem dúvida, serão determinantes para as políticas nacional, estaduais e municipais sobre drogas e também para o Programa “Crack, É Possível Vencer”, lançado pelo Governo Federal em dezembro de 2011. Elas estão disponíveis no site do Ministério da Justiça (www.mj.gov.br).

A metodologia da pesquisa permitiu que a população de difícil acesso, como presos, hospitalizados, estudantes, militares, religiosos, fugitivos e vítimas de catástrofes fossem também questionados no estudo.Já foi realizado no Brasil algo semelhante?

A metodologia empregada para a pesquisa domiciliar foi totalmente inédita. Usamos o que há de mais moderno no mundo, justamente uma técnica para se apurar populações tidas como “invisíveis”. A primeira vez que foi utilizada, há cerca de 15 anos, serviu para estimar o número de mortos em um dos terremotos do Haiti. A pergunta que se fazia ao entrevistado, no domicílio, levava em conta sua rede social, ou seja, questionava-se quantas pessoas o entrevistado conhecia que era usuária de crack. Ao mesmo tempo, outras perguntas eram feitas de contados cadastrados, cujas respostas já se sabia. Essa metodologia já foi amplamente testada. Grosso modo, a ponderação dessas respostas, por meio de um cálculo matemático, permitiu, com segurança, estimar o número de usuários, sendo que 80% deles fazem uso da droga em locais públicos. E 40% revelaram-se em situação de rua. O que mostra que a pesquisa direta, em domicílios, nesse caso, não permitiria calcular o número de usuários.

O senhor é um dos palestrantes do XI CNDP, que será realizado em Vitória (ES), em novembro. Qual sua expectativa com relação ao impacto e à receptividade dos resultados deste levantamento pelos defensores públicos presentes no encontro?

Poderemos, por ocasião do Congresso Nacional, apresentar os achados da pesquisa aos defensores públicos, pois o tema tem estado constantemente na pauta das Defensorias Públicas de todo o país. A pesquisa confirmou aquilo que intuitivamente já imaginávamos: o usuário de crack é alguém sob forte exclusão social, submetido a intensa vulnerabilidade. É dizer, pessoas tipicamente destinatárias dos serviços da Defensoria Pública.

Como o senhor avalia a participação da Defensoria Pública no combate às drogas?

A Defensoria Pública tem tido um papel fundamental na defesa dos direitos das pessoas que mais fortemente vivem a exclusão social, como são, em boa parte, os usuários de droga, incluindo as lícitas, como o caso do álcool. Mesmo quando se busca judicialmente a oferta de tratamento, o cuidado é para que o serviço ofertado respeite integralmente os direitos desses pacientes. Seja na fiscalização dos serviços de tratamento ou no atendimento aos usuários e suas famílias, a Defensoria Pública cumpre um papel absolutamente fundamental. No mesmo sentido, na área penal, em defesa de quem é acusado por crimes previstos na Lei de Drogas, a Defensoria Pública tem sido determinante da defesa dos acusados. E tem também contribuído, de forma crítica, para análise de um sistema deficiente que tem prendido muitos jovens e pobres, sem qualquer resultado.

O senhor está à frente da SENAD desde abril deste ano. Quais são os principais desafios da pasta hoje?

Foi uma honra enorme ter assumido a SENAD. E um desafio ainda maior, especialmente quando o país debate intensamente a política de drogas. A SENAD atua com a redução da demanda, ou seja, com ações de prevenção, cuidado, atenção, tratamento e reinserção social de usuários. Nosso maior desafio é, juntamente com os demais órgãos do Governo Federal e com Estados e Municípios, ampliar e construir uma rede de cuidado e tratamento a todos os usuários de drogas, lícitas e ilícitas. Um rede acolhedora, com oferta de serviços que respeite os direitos das pessoas e possa efetivamente promover a recuperação daqueles que mais sofrem com a dependência química. Outro grande desafio é dar efetividade cada vez maior à mudança de paradigma ocorrida com a edição da Lei 11.343/06: precisamos de menos ação no campo policial e da justiça criminal e um total protagonismo das ações de saúde e de assistência social aos usuários de droga.

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